Formação dos Estivadores do Porto de Santos no Processo de Modernização Portuária
Date
2022-05-23Author
Nunes, João Renato da Silva [UNIFESP]
Advisor
Queiróz, Maria de Fátima Ferreira [UNIFESP]Type
Dissertação de mestrado profissionalMetadata
Show full item recordAlternative Title
Training of Dockers in the Port of Santos in Port Modernization ProcessSAbstract
Introdução: Os estivadores têm uma história de desenvolvimento do trabalho com a formação
centrada na construção do saber, de forma geracional. Essa condição perdura até hoje. O
trabalho portuário é um setor de forte tradição histórica e carrega constantes embates, que
transitam entre as questões de quem é o estivador e qual sua formação. Neste contexto,
encontra-se o estivador entre evidências de fragmentação e alteração na forma de distribuição
do trabalho, buscando a multifuncionalidade, presente desde a Lei n° 8.630, entre os
trabalhadores portuários. A pesquisa aborda a formação/treinamento do estivador (TPA –
Trabalhador Portuário Avulso), os caminhos que levam (ou não) a ela e a sua influência na vida
do trabalhador no porto de Santos. Objetivo: Analisar o processo de formação/treinamento
oferecido aos trabalhadores portuários e a necessidade de mudanças revisionais nos modelos
atuais para a educação do estivador e as consequências na saúde. Métodos: Trata-se de pesquisa
com base em duas abordagens da formação dos estivadores: um estudo descritivo e uma
abordagem qualitativa. Nesta pesquisa, a coleta de dados desenvolveu a exploração documental
em um acervo que permitiu conhecer e analisar o processo histórico da realização (e oferta) de
cursos para os estivadores. Na pesquisa documental, as fontes de dados referentes à formação
portuária incluíram documentos da Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil, desde
1970, e documentos de arquivos privados, como o Centro de Excelência Portuária (CENEP),
desde 2008. Também foram utilizados a Hemeroteca Municipal de Santos, o acervo da
biblioteca da Santos Port Authority (SPA), o acervo da Capitania dos Portos de Santos, o
arquivo do Museu do Porto de Santos e o arquivo morto do Departamento de Assistência Social
(DAS) do sindicato dos estivadores de Santos. Os documentos foram catalogados e passaram
por um processo minucioso de leitura, cujas análises permitiram compreender o processo
formativo dos estivadores do porto de Santos. A abordagem qualitativa foi desenvolvida por
meio de entrevistas abertas e semiestruturadas. Foram realizadas 12 entrevistas por meio digital
(online), através do Google Meet, devido à pandemia de covid-19 e para a segurança dos
entrevistados e do entrevistador. Para a análise, utilizou-se o discurso do sujeito coletivo, para
tornar mais clara sua representação social e suas necessidades de formação/treinamento para o
trabalho no Porto. Resultados: A formação dos estivadores caminhou pela história do Porto.
Mesmo com o surgimento da formação técnica do ensino profissional marítimo na década de
1970, o saber fazer se manteve presente e forte, como ferramenta para somar ao aprendizado,
principalmente com instrutor da categoria. No âmbito da sala de aula, a formação dos
estivadores para o modelo de operação no Porto de Santos não é considerada essencial para o
processo de construção profissional, mas, se inclui sinergicamente ao processo de aprendizado
do saber fazer dos trabalhadores. As críticas são sobre a burocracia nas salas de aula, a falta de
testes práticos com exercícios reais e de acesso às demais formações do ensino profissional
marítimo. Conclusão: Para uma boa formação portuária, o estivador precisa ser ouvido como
o sujeito principal, para receber uma formação que o torne um profissional multifuncional, ao
invés de apenas um simples operador de funções a bordo dos navios. Também há que se
considerar que os estivadores não se preparam adequadamente para exercer a
multifuncionalidade, que não depende somente de formação e saberes, mas de lutas políticas
pelo direito ao trabalho. Destaca-se, ainda, a necessidade de mudanças revisionais nos modelos
atuais para a formação do estivador, principalmente na parte prática dos cursos, para tornar a
realidade da sala de aula uma amostra do dia a dia, preparando o profissional para a
multifuncionalidade. Desde a década de 1970, até os dias atuais, os cursos oferecidos também
sofreram importantes transformações e agregaram conhecimentos importantes. É importante
considerar a importância desses cursos; os estivadores reconhecem seu valor, além de ofertas
de novas escalas de trabalho a partir das novas formações. Porém, nem todos os cursos são
oferecidos a todos os estivadores, principalmente os processos que envolvem logística
portuária. Essas lutas ainda estão em pauta e podem transformar o trabalho no porto,
construindo um outro lugar, com o reconhecimento dos trabalhadores que estão na origem do
trabalho no Porto de Santos e no Brasil Introduction: Dockers have a history of work development with training focused on the
construction of knowledge and work in a generational way. This condition persists to this day.
Port work is a sector with a strong historical tradition, and it carries constant clashes, which
transit between questions of who the docker is and what their training is. In this context, the
docker is found between evidence of fragmentation and change in the form of work distribution,
seeking multifunctionality, present since Law No. 8,630, among port workers. The research
addresses the formation/training of the Dockers (TPA- Worker casuale), the paths that lead (or
not) to it, and its influence on the life of the worker in the port of Santos. Objective: to analyze
the education/training process offered to Port workers and the need for revisional changes in
the current models for the education of Dockers and the consequences on health. Methods: this
is a research based on two approaches to the training of dockers: a descriptive study and a
qualitative approach in this research the data collection developed the documentary exploration
in a collection that allowed to know and analyse the historical process of realization (and offer)
of courses for dockers. The data sources that in the documentary research referring to port
formation included documents in the files of the Directorate of Ports and Coasts of Brazil, since
1970, in documents of private archives as the Center of Port Excellence (CENEP), since 2008.
The Municipal Newspaper Library of Santos, public access, the library collection of the Santos
Port Authority (SPA), the archive collection of the Captaincy of Ports of Santos, the archive of
the Museum of the Port of Santos and the dead file of the assistance department were also used.
(DAS) of the Santos longshoremen's union. The documents were catalogued and went through
a thorough reading process and became objects of analysis that allowed us to understand the
training process of the port of Santos dockers. The qualitative approach was developed through
open and semi-structured interviews. In a careful listening, a quantitative of 12 interviews was
carried out through digital means (online), using the Google Meet feature, the choice of Google
Meet, was due to the Covid 19 pandemic and for the safety of the interviewees and the
interviewer. For analysis, the discourse of the collective subject was used to make its social
representation clearer about its education/training needs for work in the port. Results: The
training of dockers walked through the history of the port. That even with the emergence of
technical training in professional maritime education in the 70s, know-how remained present
and strong. The latter being a tool used to add learning, especially with an instructor of the
category. The training of dockers for the port operation model, within the classroom, in the port
of Santos is not 100% considered essential for dockers in their professional construction process
but is synergistically included in the knowledge learning process of port workers. The criticisms
are about the bureaucracy in the classrooms, the lack of practical tests with real exercises and
the lack of access to other formations of Maritime Vocational Education. Conclusion: For port
training to be positive, the dockers needs to be heard as the main subject. To receive training
that makes you a multifunctional professional rather than just a simple function operator on
board ships. It must also be considered that longshoremen are not adequately prepared to
exercise multifunctionality, which does not depend only on training and knowledge, but on
political struggles for the right to work. The need for revisional changes in the current models
for the training of the dockers is also highlighted, especially regarding the practical part of the
courses of Professional Maritime Education for Dockworkers of the Brazilian Navy to make
the reality of the classroom a sample of the dockers everyday life, and preparing him for
multifunctionality. We emphasize that the courses offered from the 1970s to the present day
have also undergone important transformations and added important knowledge to the dockers.
The importance of these courses must be considered and the dockers recognize the value of this
learning and offers of new work schedules based on the new training. What must be taken into
account is that not all courses are offered to all stevedores and, especially, processes that involve
port logistics do not reach the stevedores. And it is believed that these struggles are still on the
agenda and can transform work in the port by building another place, another recognition, for
workers who are at the origin of work in the port of Santos and in Brazil.