A saúde socioambiental na formação em saúde: um estudo com narrativas

Abstract

A presente pesquisa teve por objetivo analisar a inserção dos conteúdos relativos à saúde socioambiental na formação interdisciplinar e interprofissional dos estudantes da área da saúde no âmbito do módulo de Encontros e Produção de Narrativas, do Eixo Trabalho em Saúde, que compõe o itinerário curricular dos Cursos de Saúde do Instituto Saúde e Sociedade do Campus Baixada Santista, da Universidade Federal de São Paulo. Utilizou-se a análise de discurso como instrumento de análise de diários de campo e narrativas produzidos por turmas de discentes que receberam conteúdo de saúde socioambiental, nos anos de 2017, 2018 e 2019. Dos diários de campo e narrativas, evidenciamos que a temática questão socioambiental, relacionada aos casos, permeou os encontros narrativos e foi trazida nas reflexões discentes. A observação da questão ambiental e de sua relação com os processos saúde-doença surge tanto nos diários quanto nas narrativas. Os temas centrais dos encontros narrativos também permearam as narrativas. O movimento de acompanhar o que foi vivido pelos discentes quando em campo pelo diário, desde o primeiro encontro com o narrador e a visita ao território, contribuiu para observar os processos de estranhamento, a resistência ante as certezas prévias, oriundas de formações anteriores, as marcas socioculturais, assim como as percepções de saírem outros do processo e até mesmo as que não foram percebidas, mas permearam os entrelaçamentos dos discursos. O uso da análise de discurso como método de análise promoveu maior movimento no intuito de interpretar os significados da experiência para os discentes, além da possibilidade de observar fontes ideológicas que sustentavam os discursos que traziam saúde e meio ambiente, além de formações discursivas que poderiam estar alinhadas a fontes ideológicas complementares e, por vezes, antagônicas. Há brechas polissêmicas permeando os discursos que se movimentam por diários e narrativas. Fendas que trazem novos significados do percurso feito no aprendizado. Reconhecem-se possibilidades de propostas educacionais intencionalmente construídas com base na educação interprofissional, para mobilizar movimentos de sair do lugar comum, da reprodução do que está posto hegemonicamente. Diários de campo e narrativas desenvolvidos por meio de encontros com pessoas que estão ou estiveram em condições socioambientais de exposição crônica ou aguda nos territórios de moradia e trabalho trazem a reflexão crítica das condições dos determinantes sociais. A articulação entre saúde e meio ambiente, inserindo a questão ambiental nos processos saúde-doença e na formação dos profissionais de saúde, constitui uma inovação a serviço de práticas de atenção à saúde desenvolvidas na perspectiva da integralidade do cuidado, das necessidades das pessoas e na defesa da saúde como direito.

The present research aimed to analyse the insertion of contents related to socio environmental health in the interdisciplinary and interprofessional training of students from the health area within the module Encounters and Production of Narratives, of the Health Care Work Axis, which makes up the curricular itinerary of the Health Courses of the Health and Society Institute of the Baixada Santista Campus of the Federal University of São Paulo. Discourse analysis was used as a tool to analyse field diaries and narratives produced by classes of students receiving socio-environmental health content in the years 2017, 2018 and 2019. From the field diaries and narratives, it was evidenced that the themes of social and environmental issue, related to the cases, permeated the narrative meetings and were brought in the student reflections. The observation of the environmental issue and its relationship to health-disease processes emerges both in the diaries annotations and in the narratives. The central themes of the narrative encounters also permeated the narratives. The movement of following up what was experienced by the students when in the field through the diary, from the first meeting with the narrator and the visit to the territory, contributed to observing the processes of distancing, resistance in face of preconceived certainties, arising from previous trainings, sociocultural symbols, as well as the perceptions of others coming out of the process, and even those that were not perceived, but which permeated the interweaving of the speeches. The use of discourse analysis as a method of analysis promoted greater movement in order to interpret the meanings of the experience for the students, besides the possibility of observing ideological sources that supported the discourses that brought health and environment issues, as well as discursive formations that could be aligned to complementary ideological sources and sometimes, antagonistic. There are polysemic gaps permeating the discourses that move through diaries and narratives. Cracks that bring new meanings of the path made in the learning. Possibilities of educational proposals intentionally built on the basis of interprofessional education are recognized, mobilizing movements to leave the common place, the reproduction of what is hegemonically set. Field diaries and narratives developed through meetings with people who are or have been in chronic or acute social and environmental exposure conditions in their territories of residence and work, bring a critical reflection of the conditions of social determinants. The articulation between health and environment, inserting the environmental issue in health-disease processes and in the training of health professionals, constitutes an innovation at the service of health care practices developed from the perspective of integrality of care, people's needs and the defense of health as a right.