A comunicação e a relação médico-paciente: experiências narrativas de diálogo

Abstract

A comunicação entre médicos e pacientes é parte fundamental da relação médico- paciente, que busca estabelecer uma vinculação para coparticipação e corresponsabilização pelo cuidado. Apesar disso, é comum, especialmente dentro da racionalidade biomédica atual, um relacionamento profissional baseado em verticalidade de poder, que leva a uma supervalorização do discurso médico e da face “dura” da prática clínica, dominando o processo de cuidado, reduzindo-o frequentemente ao enfoque na patologia e ao binômio diagnóstico-tratamento, relegando o diálogo ao segundo plano. Este estudo, de natureza qualitativa, propõe problematizar o encontro clínico, especificamente a comunicação clínica entre médico e paciente, buscando compreender as esferas inter comunicacionais presentes no discurso biomédico, trazendo e aliando conceitos e teorias do campo da linguagem e comunicação. Para isso, foram construídas narrativas, desenvolvidas pelo médico- pesquisador que se propôs a problematizar sua própria prática e registrar num diário, ressignificando-a e reinterpretando-a ao aliar conceitos de Bakhtin, um filósofo da linguagem e do diálogo. Na perspectiva de refletir com o processo da comunicação clínica, especialmente seus enunciados, sob uma nova óptica. Finalizamos, provisoriamente, reiterando que a relação médico-paciente se dá no diálogo entre os falantes. Conversa esta que representa um encontro entre diferentes realidades e contextos, essencialmente diferentes sistemas ideológicos, o do paciente e o do médico, este último por muito tempo representado pelo saber técnico-científico da racionalidade biomédica, também assimilada pelos pacientes, e que agora precisa ser repensada por ambos os interlocutores, e é principalmente através do diálogo mais horizontalizados que os discursos de ambos podem se encontrar.

Communication between doctors and patients is a fundamental part of the doctorpatient relationship, which seeks to establish a link for co-participation and coresponsibility for care. Despite this, it is common, especially within the current biomedical rationality, a professional relationship based on verticality of power, which leads to an overvaluation of medical discourse and the “hard” face of clinical practice, dominating the care process, often reducing it. To the focus on pathology and the diagnosis-treatment binomial, relegating dialogue to the background. This qualitative study proposes to problematize the clinical encounter, specifically the clinical communication between doctor and patient, seeking to understand the intercommunicational spheres present in the biomedical discourse, bringing and combining concepts and theories in the field of language and communication. For this, narratives were constructed, developed by the doctor-researcher who proposed to problematize his own practice and record it in a diary, resignifying and reinterpreting it by combining concepts of Bakhtin, a philosopher of language and dialogue. From the perspective of reflecting on the process of clinical communication, especially its noises, from a new perspective. We conclude, provisionally, by reiterating that the doctorpatient relationship takes place in the dialogue between the speakers. This conversation represents a meeting between different realities and contexts, essentially different ideological systems, that of the patient and that of the doctor, the latter for a long time represented by the technical-scientific knowledge of biomedical rationality, also assimilated by patients, and which now needs to be rethought by both interlocutors, and it is mainly through less coercive dialogue that the discourses of both can meet.