Hesitação vacinal: análise de conteúdo veiculado em grupo contrário à vacinação no Facebook®

Abstract

RESUMO Introdução. A hesitação vacinal, configurada pelo atraso ou recusa da vacinação mesmo diante de sua disponibilidade, foi considerada como uma das principais ameaças à saúde global pela Organização Mundial de Saúde. A hesitação vacinal é influenciada pela veiculação de informações equivocadas e mitos sobre diferentes aspectos relacionados à vacinação, sobretudo, pelas plataformas de mídias sociais, cujo uso aumentou exponencialmente nos últimos anos. Identificar e categorizar os conteúdos veiculados nesses ambientes virtuais é fundamental para delinear estratégias de intervenção adequadas para mitigar a hesitação vacinal. Objetivo. Analisar o conteúdo veiculado em um grupo contrário à vacinação na rede social Facebook®. Método. Estudo descritivo de abordagem quantitativa. A amostra foi composta por postagens no grupo intitulado “Vacinas: O lado obscuro das Vacinas” da rede social Facebook®, que contava com mais de 12 mil membros no ano de 2020. Foram analisados e categorizados a quantidade e o teor dos conteúdos das postagens, bem como, a quantidade e tipos de comentários, compartilhamentos e reações das pessoas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 35463220.0.0000.5505). Resultados. Foram analisadas 603 postagens correspondentes aos meses de janeiro a dezembro de 2020. A maior parte das postagens foi realizada por mulheres (n = 356; 87,68%) e administradora do grupo (n = 270; 66,50%). Especificamente em relação ao conteúdo, quase metade (n = 282; 46,84%) das postagens foram classificadas como secundárias, já que reproduziam informações de outros sites, e apenas 15,11% (n = 91) eram originais. A análise preliminar revelou que o tema mais frequentemente abordado nas postagens foi “vacinas causam doenças” (n = 85; 13,66%), seguido de “temas relacionados a Covid-19” (n = 84; 13,50%) e “credibilidade/veracidade das vacinas” (n = 64; 10,28%), incluindo questionamentos acerca da eficácia dos imunizantes. Quanto às reações dos membros do grupo às publicações, constatou-se 69,95% (n = 1945) de reação do tipo “curti”. Conclusão. O principal conteúdo veiculado no grupo contrário à vacinação na rede social Facebook® estava relacionado à informação de que as vacinas causam doenças na população, como autismo e infecções gripais como coronavírus. A maior parte do material publicado foi caracterizado como secundário, ou seja, tratava da reprodução de conteúdo divulgado em outros sites (notícias, materiais científicos, links). O número de reações “curti” pelos membros do grupo demonstra a amplitude alcançada pelas informações publicadas. O estudo apresenta informações que podem contribuir com o delineamento de intervenções para mitigar a hesitação vacinal, e consequentemente, aumentar a taxa de cobertura vacinal no Brasil.