Evolução temporal da displasia broncopulmonar em instituições neonatais universitárias brasileiras: um estudo de coorte

Imagem de Miniatura
Data
2022-08-19
Autores
Stolz, Camila [UNIFESP]
Orientadores
Guinsburg, Ruth [UNIFESP]
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Introdução: A displasia broncopulmonar (DBP), definida como necessidade de oxigenoterapia com 36 semanas de idade gestacional corrigida (IGc), é uma das principais morbidades decorrentes da prematuridade, acometendo 35% dos nascidos com peso <1.500g. A prematuridade é o principal fator de risco, porém há diversos fatores pré e pós-natais que comprometem o desenvolvimento normal do pulmão imaturo. A DBP ultrapassa o período neonatal, estando fortemente associada à necessidade de hospitalizações recorrentes, alteração no neurodesenvolvimento e à presença de morbidades pulmonares persistentes. No Brasil não há dados populacionais sobre a frequência da DBP e seus fatores associados. Objetivo: Avaliar a evolução temporal, entre 2010-2019, da frequência de DBP nos recém- nascidos pré-termo que sobreviveram no mínimo até 36 semanas de IGc e do desfecho combinado DBP ou óbito com 36 semanas de IGc, e analisar os fatores maternos e neonatais associados a esses desfechos. Método: Coorte retrospectiva com dados da Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais (RBPN). Foram incluídos os nascidos nas 19 unidades participantes da RBPN entre 2010-2019, com idade gestacional entre 230/7 e 326/7 semanas e com peso de nascimento entre 400g e 1.499g. Foram excluídos os óbitos na sala de parto, os portadores de malformações congênitas, os nascidos em outras instituições, transferidos para outros hospitais até sete dias de vida e aqueles com dados incompletos. A evolução temporal dos desfechos foi avaliada pela regressão de Prais-Winsten. Foram utilizados modelos de regressão logística ajustados unicamente para centro de nascimento e ano de coorte e modelos multivariados com seleção retrógrada de variáveis consideradas clinicamente relevantes para a análise dos fatores associados a ambos os desfechos analisados. Resultados: Dentre 11.914 nascidos incluídos no estudo, 8.937 (75%) estavam vivos à alta hospitalar. A frequência de DBP nos sobreviventes foi de 20%, sendo constante ao longo do tempo (Annual Percent Change – APC: -0,48%; IC 95% -2,13;1,19%). A frequência de DBP ou óbito foi 40%, com uma redução de 0,89% a cada ano (APC -0,89%; IC 95% -1,48;-0,29%). As variáveis sexo masculino, ser pequeno para idade gestacional, presença de síndrome do desconforto respiratório, síndrome de escape de ar, hipertensão pulmonar, tempo de ventilação mecânica (<7, 7-14 e ≥15 dias), canal arterial tratado e sepse tardia tiveram associação com o viii aumento da DBP nos sobreviventes e o parto cesáreo com a sua diminuição. Para o desfecho DBP ou óbito, a presença de hemorragia materna, gestação múltipla, Apgar de 5o minuto <7, sepse tardia, enterocolite necrosante e HPIV somaram-se aos fatores associados ao aumento da DBP nos sobreviventes, elevando a chance de DBP ou óbito. Já o aumento da idade gestacional e o parto cesárea se associaram a uma menor frequência de DBP ou óbito. Conclusão: A frequência de DBP nos sobreviventes se manteve estável ao longo dos anos da coorte, enquanto o desfecho combinado DBP ou óbito apresentou redução, com ampla variação entre os centros. Alguns fatores estudados foram associados à DBP entre os sobreviventes e à DBP ou óbito, enquanto outros tiveram associação exclusiva com um dos dois desfechos, permitindo identificar diferenças entre ambos.
Introduction: Bronchopulmonary dysplasia (BPD), defined as oxygen requirement at 36 weeks’ postmenstrual age (PMA), is one of the most important morbidities resulting from prematurity, affecting 35% of newborns with birthweight <1500g. Prematurity is the main risk factor, however there are many other pre- and post-natal conditions that compromise the normal development of the immature lung. BPD goes beyond the neonatal period, as it is strongly associated with the need for recurrent hospitalizations, changes in neurodevelopment and the presence of persistent pulmonary morbidities. In Brazil, there are no multicenter data on the frequency of BPD or its associated factors. Objective: To evaluate the temporal trend, between 2010 and 2019, of BPD in preterm infants who survived to at least 36 weeks PMA and of the combined outcome of BPD or death at 36 weeks PMA, and to analyze maternal and neonatal variables associated with these outcomes. Method: Retrospective cohort with data from the Brazilian Neonatal Research Network (RBPN). Infants born in one of the 19 units participating in the RBPN between 2010 and 2019, with a gestational age between 230/7 and 326/7 weeks and with a birth weight between 400g and 1,499g, were included. Deaths in the delivery room, those with congenital malformations, those born in other institutions, transferred to other hospitals up to seven days of life, and those with incomplete data were excluded. The temporal evolution of outcomes was evaluated by Prais-Winsten regression analysis. Logistic regression models adjusted for birth center and cohort year and multivariate models with backward selection of variables considered clinically relevant were used to analyze variables associated with both outcomes. Results: Among 11,914 neonates included in the study, 8,937 (75%) were alive at discharge. BPD frequency in survivors was 20%, being constant over time (Annual Percent Change – APC: -0.48; 95%CI: -2.13; 1.19). The frequency of BPD or death was 40%, with a reduction of 0.89% for each year of the study (APC: - 0.89%; 95%CI: -1.48%; -0.29). Being male, small for gestational age, presence of respiratory distress syndrome, air leaks, pulmonary hypertension, duration of mechanical ventilation (<7, 7-14 and ≥15 days), treated ductus arteriosus and late- onset sepsis were associated with an increase in BPD in survivors, whereas cesarean delivery was associated with its decrease. For the outcome BPD or death, the x presence of maternal hemorrhage, multiple pregnancy, 5th minute Apgar <7, late onset sepsis, necrotizing enterocolitis and intraventricular hemorrhage were added to the variables associated with BPD in survivors and their presence increased the outcome of BPD or death. Greater gestational age and cesarean section were associated with a lower frequency of BPD or death. Conclusion: The frequency of BPD in survivors remained stable over the years of the Study, while the combined outcome of BPD or death showed a reduction over time, with wide variation among centers. Some studied factors were associated with both BPD among survivors and BPD or death, while others were exclusively associated with one of the two outcomes, allowing the identification of differences between these two outcomes.
Descrição
Citação