Perfil epidemiológico, clínico e eletroencefalográfico de pacientes epilépticos numa população indígena isolada na Amazônia brasileira

Abstract

Perfil epidemiológico, clínico e eletroencefalográfico de pacientes epilépticos numa população indígena isolada na Amazônia brasileira. 2022.xxv158p. Tese (Doutorado) – Departamento de Neurologia e Neurocirurgia. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil. Objetivos: Estudar a prevalência, os fatores de risco, as características clínicas e eletroencefalográficas das pessoas com epilepsia em uma população indígena geograficamente isolada. Métodos: Estudo retrospectivo, do tipo coorte histórica. Utilizou os prontuários dos pacientes atendidos de 2003 a 2018 no ambulatório de neurologia da cidade de Oriximiná-PA, referência para os indígenas das tribos Waiwai, habitantes de uma reserva florestal isolada na Amazônia. Foram incluídos 25 pacientes com epilepsia entre os 118 indígenas atendidos. Foram estudados os aspectos clínicos, exames, antecedentes, comorbidades, o tratamento oferecido e a resposta. Realizou-se uma análise de sobrevida cujo desfecho era o controle das crises. Resultados: A ocorrência do diagnóstico de epilepsia na população Waiwai foi de 10/1000, a maioria dos casos começou na infância (68%), sem diferença quanto ao gênero. O número de crises antes da primeira consulta era elevado em 44%, antecedente familiar existia em 24%, hipóxia perinatal em 20% e um quinto referia crises febris. Havia comorbidade psiquiátrica em 20% e deficiência intelectual em 20%. O exame neurológico e desenvolvimento neuropsicomotor eram alterados em um terço dos casos. O Eletroencefalograma mostrou anormalidades em 68% dos pacientes, predominando as descargas epileptiformes focais. Epilepsias focais foram predominantes (64%) e as etiologias genética e desconhecida foram proeminentes. O tratamento controlou 72% dos pacientes (monoterapia em 64%) e houve um óbito em 15 anos. A análise de sobrevida demonstrou, através das curvas de estimativa de Kaplan-Meier e modelos de regressão de Cox e Weibull, que os fatores mais relacionados à refratariedade com tempo de observação de 24 meses foram exame neurológico anormal, antecedente familiar e necessidade de politerapia (p=0,05 por Cox; p=0,001 por Weibull). A classificação da epilepsia e a idade não foram estatisticamente significativos para o desfecho (Log rank=0,2 e 0,7, respectivamente). Conclusões: Ao contrário de outros povos indígenas descritos na literatura, os Waiwai têm uma baixa ocorrência de epilepsia. Os resultados terapêuticos foram similares aos da população geral.

Epidemiological, clinical and electroencephalographic profile of epileptic patients in an isolated indigenous population in the Brazilian Amazon. 2022.xxv158p. Thesis (Doctorate) - Department of Neurology and Neurosurgery, Federal University of São Paulo, São Paulo, Brazil. Objectives:To study the prevalence, risk factors, clinical and electroencephalographic characteristics of epileptic people from a geographically isolated indigenous population. Methods: It was a retrospective, historical cohort study. It used the medical records of patients seen from 2003 to 2018 at the neurology outpatient clinic in the city of Oriximiná PA, a reference for the indigenous people of the Waiwai tribes, inhabitants of an isolated forest reserve in the Amazon. Twenty-five patients with epilepsy were included among the 118 indigenous people attended. Clinical aspects, exams, background, comorbidities, the treatment offered and the response were studied. A survival analysis was made whose outcome was seizures control. Results: The occurrence of the diagnosis of epilepsy in the Waiwai population was 10/1000, most cases started in childhood (68%), with no difference regarding gender. The number of seizures before the first consultation was high in 44%, there was a family history in 24%, perinatal hypoxia in 20% and a fifth reported febrile seizures. There was psychiatric comorbidity in 20% and intellectual disability in 20%. Neurological examination and neuropsychomotor development were altered in one third of cases. The electroencephalogram showed abnormalities in 68% of the patients, with a predominance of focal epileptiform discharges. Focal epilepsies were predominant (64%) and genetic and unknown etiologies were prominent. The treatment controlled 72% of the patients (monotherapy in 64%) and there was 1death in 15 years. Survival analysis demonstrated, through Kaplan-Meier estimation curves and Cox and Weibull regression models, that the factors most related to refractoriness with a 24-month observation period were abnormal neurological examination, family history and need for polytherapy (p =0.05 by Cox; p =0.001 by Weibull). The classification of epilepsy and age were not statistically significant for the outcome (Log-rank = 0.2 and 0.7, respectively). Conclusions: Unlike other indigenous peoples described in the literature, Waiwai have a low occurrence of epilepsy. The therapeutic results are the same as those of the general population.