Tuberculose na infância e adolescência: perfil epidemiológico dos casos notificados no Estado de São Paulo de 2009 a 2019

Abstract

A tuberculose (TB) ainda hoje é um problema de saúde pública, principalmente nos países emergentes. No ano de 2018, cerca de 10 milhões de novos casos de tuberculose foram identificados no mundo. Dentre estes, mais de 1 milhão de casos ocorreu em menores de 15 anos, levando a óbito aproximadamente 21% destes indivíduos. Nesse mesmo ano, no Brasil, 2.498 casos ocorreram em menores de 15 anos, sendo que 23% deles pertenciam ao Estado de São Paulo (ESP). Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico dos casos de tuberculose notificados em indivíduos de 0 a 18 anos no Estado de São Paulo de 2009 a 2019. Metodologia: Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, retrospectivo, dos casos de tuberculose em indivíduos de 0 a 18 anos notificados no período de 2009 a 2019 no ESP. Os dados do estudo foram obtidos através do Sistema de Controle de Pacientes com Tuberculose do Estado de São Paulo (TBweb), sistema gerido pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde. Foi realizada uma análise descritiva das variáveis encontradas, sendo os dados organizados em tabelas e gráficos para melhor visualização e analisados por faixa etária. Resultados: No período de estudo foram notificados 12.872 casos de TB em indivíduos de 0 a 18 anos, sendo que 47,6% eram do sexo feminino e 52,4% do sexo masculino, 41,7% eram brancos e 44,7% pretos/pardos. A mediana de idade dos casos notificados foi de 15 anos. O coeficiente de prevalência (CP) de TB na população de interesse foi de 103,0 casos /100 mil habitantes, o que coloca o ESP abaixo da mediana de casos de TB calculada para o Brasil (108,2 casos/100mil habitantes). A região metropolitana (RM) da Baixada Santista é a que possui o maior CP do ESP (309,6/100 mil habitantes). A forma clínica mais frequente foi a pulmonar, que ocorreu em 76,8% dos casos notificados, em todas as faixas etárias. A expressiva maioria dos casos evoluiu para cura (85,6%) e 7,3% abandonaram o tratamento, sendo o abandono mais frequente nos indivíduos a partir dos 10 anos de idade e dentre os detentos. O esquema de tratamento mais frequente foi o RHZE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol), ocorrendo em 70,3% das notificações, inclusive para as faixas etárias onde o Etambutol não está indicado oficialmente. Conclusão: A TB é mais do que uma doença infectocontagiosa, é também um aceno sobre as fragilidades socioeconômicas de uma população, podendo estar relacionado ao desenvolvimento humano de uma determinada região. O estudo permitiu inferir, também, que há possíveis falhas de divulgação de informações e/ou sensibilização dos profissionais de saúde que precisam ser investigadas e sanadas.

Tuberculosis (TB) is still, to this day, a public health issue, especially in the emerging countries. In 2018, around 10 million new cases of tuberculosis were diagnosed around the world. Among them, over 1 million occurred in children under 15 years, 21% of which ended up dying. In that same year, in Brazil, 2.498 cases occurred in individuals with 15 years or less, 23% of those taking place in the state of São Paulo (ESP). Objective: Draw an epidemiological profile of the notified tuberculosis cases in individuals between the ages of 0 – 18 years, that happened in São Paulo state between 2009 and 2019. Methodology: This is a quantitative, descriptive, and retrospective study of tuberculosis cases that were notified in the state of São Paulo between 2009 and 2019, in individuals between 0 – 18 years. Data for this study was collected through the State of São Paulo System for Control of Patients with Tuberculosis (TBweb), which is managed by the Epidemiological Surveillance Center (CVE), entity associated with the State Health Department. A descriptive analysis of found variables was conducted, with results data organized in tables and charts for better comprehension. Results: During the studied period, 12.872 cases of TB were notified in individuals between 0 – 18 years, 47.6% of which were female at birth, while 54.2% were male; 41.7% white and 44.7% brown/black. The age median on the notified cases was of 15 years. The prevalence coefficient (CP) of tuberculosis in the studied population in ESP was of 103 cases per 100 thousand inhabitants, fact that puts the state below the median for the country (108.2 cases per 100 thousand inhabitants). The metropolitan region (RM) of Baixada Santista has the higher CP of ESP, with 309.6 cases per 100 thousand inhabitants. The most common clinical manifestation of the disease was pulmonary, occurring in 76.8% of the studied cases, being the most frequent across all age ranges. Most cases evolved to a cure (85.6%) while 7.3% of the patients abandoned treatment, fact that happened most frequently on individuals under 10 years of age and among inmates. The most frequent treatment against the disease was RZHE (Rifampicin, Isoniazid, Pyrazinamide and Ethambutol) occurring in 70.3% of notified cases, including the age ranges where treatment with Ethambutol was not advised officially. Conclusion: Tuberculosis is much more than an infectious contagious disease, also drawing attention to the socioeconomical fragilities of certain populations, even possibly being correlated to the human development of a region. This study also showed that there are flaws in communications and information distribution/sensibilization for health workers, problems which need to be investigated and addressed.