Efeitos da distância à vegetação nativa sobre o controle de pragas em olivais em Minas Gerais, Brasil

Abstract

Diversos estudos mostram que a perda de vegetação nativa causa um declínio drástico da biodiversidade, gerando em consequência um declínio dos serviços ecossistêmicos. O controle biológico (i.e. o controle de populações de organismos que possam ser pragas agrícolas, a partir de inimigos naturais) é um serviço ecossistêmico importante para a agricultura, levando não só a redução da densidade de pragas, mas também a redução do uso de pesticidas agrícolas e aumento da produção. É esperado que os efeitos do controle biológico dependam de diversos fatores, sendo que um deles é a distância do habitat nativo à plantação. Este estudo tem por objetivo investigar a prevalência de predação de pragas em relação a distância de oliveiras à vegetação nativa em uma fazenda situada em Aiuruoca, Minas Gerais. Esperava-se encontrar uma relação negativa e gradual entre a prevalência de predação e a distância da árvore à vegetação nativa, ou seja, quanto mais distante a árvore fosse do fragmento, menor seria a prevalência de predação. Foram utilizadas lagartas artificiais, colocadas em 12 árvores em três distâncias distintas (margem do fragmento, 20 metros e 80 metros) da vegetação nativa, divididas em 4 transectos. Depois de 48 horas o número de lagartas atacadas (i.e. as lagartas com pelo menos uma marcação de bico e/ou mandíbulas) por árvore foi contabilizado e registrado. Depois foi comparado a média do número de ataques por distância através de ANOVA. Nossos resultados foram que a prevalência de ataques (predação) foi maior na margem do fragmento de mata quando comparado com ambas as distâncias de 20 e 80 metros do fragmento de mata e que não houve diferença significativa na prevalência de predação entre 20 e 80 metros do fragmento de mata. Assim, a prevalência de predação caiu drasticamente já nos primeiros 20 metros dentro do olival, mostrando que o serviço de controle de pragas existe principalmente na margem, mas que é reduzido dentro do olival, indicando que há outros fatores que também influenciam no controle de pragas além da distância à vegetação nativa. Nossa hipótese de que o fragmento de mata fornece um habitat para predadores de pragas foi corroborada, porém nossa predição de que a prevalência de predação diminuía gradualmente com a distância do fragmento de mata ao olival não foi corroborada. Porém, a alta prevalência de ataques na margem mostra a presença de predadores de lagartas no habitat nativo, indicando a importância da conservação de fragmentos de vegetações nativas próximos às plantações, para que haja uma maior diversidade e abundância de predadores naturais e assim o fornecimento do serviço ecossistêmico de controle de pragas.