Avaliação da atividade hemolítica do componente c2 do complemento em pacientes infectados com hcv

Data
2015-10-28
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Introdução: Observamos em nossa rotina no laboratório clínico que alguns pacientes com hepatite C apresentavam atividade hemolítica de C2 (C2h) reduzida sem aparente consumo de outros componentes do Sistema Complemento (SC), despertando interesse para maior entendimento desse fenômeno e da sua possível participação na fisiopatologia da infecção. O objetivo do projeto foi dimensionar o fenômeno de diminuição isolada de C2h em pacientes infectados com HCV e procurar estabelecer suas bases causais, bem como sua possível relação com manifestações autoimunes e com parâmetros clínicos. Material e Métodos: Foram sequencialmente selecionadas 1023 amostras de soro provenientes de 726 pacientes infectados com HCV que deram entrada com pedidos de exames no laboratório de rotina de Imuno-Reumatologia da EPM/UNIFESP entre os anos de 2008 e 2012. O estudo do Sistema Complemento (SC) foi feito por imunohemólise radial para CH100 e C2h e por quantificação por imunodifusão radial dos componentes C2, C4, C3 e Fator B. Foi feita a pesquisa de autoanticorpos e a quantificação de crioglobulinas. A carga viral foi determinada por qRT-PCR. Os demais parâmetros clínicos e laboratoriais foram obtidos a partir do prontuário estruturado dos pacientes e foram utilizados para o cálculo do índice APRI (aspartate aminotransferase-to-platelet ratio index). Resultados: As amostras de soro foram divididas em três grupos de acordo com os níveis de C2h: 154 (15,1%) com C2h Não detectada (<30% atividade), 154 (15,1%) com C2h Diminuída (31 a 70% de atividade) e 715 (69,8%) com C2h normal (> 70% atividade). O grupo C2h Não detectada teve menores valores de concentração sérica de C2, C3 e C4, embora os valores de C3 e C4 estivessem dentro do intervalo de referência na maior parte dos casos. Análise de amostras sequenciais de 189 pacientes mostrou que a diminuição de C2h é um fenômeno transitório. Pacientes com C2h Não detectada tiveram maiores níveis séricos de enzimas hepáticas [AST 2,13±1,74 vezes acima do limite superior de normalidade (LSN) e ALT 2,29±2,15 LSN] e menores níveis séricos de albumina (4,0±0,6 g/dL) e plaquetas (160±75 x103 /mm3 ) quando comparados aos pacientes com C2h normal [AST 1,42±1,23 LSN p<0.001; ALT 1,52±1,39 LSN; p=0,03; albumina 4,2±0,5 g/dl p=0,01; plaquetas 186±87 x103 /mm3 p = 0,012], além de maior frequência de crioglobulinemia que o grupo C2h normal (12% e 0,8% respectivamente; p<0,001), menos indivíduos com carga viral não detectada (10% versus 43%; p = 0,006), maiores valores para o índice APRI (2,0±2,3 versus 1,0±1,2, p < 0,001) e mais indivíduos na etapa de pré-tratamento. Os ensaios de interação in vitro de crioglobulinas com soro normal indicaram que se trata de fenômeno induzido por crioglobulinas de forma dose- xix dependente. Não houve relação com outros parâmetros clínicos e laboratoriais (idade, gênero, via de infecção, genótipo viral, presença de doença renal, coinfecção viral, carga viral, tipo de tratamento, atividade de protrombina e presença de autoanticorpos). Conclusão: Ocorre o fenômeno de diminuição preferencial da C2h em 30% dos pacientes infectados com HCV. Esse fenômeno é transitório e é determinado primariamente pela interação com crioglobulinas circulantes, mas talvez seja também modulado por comprometimento parcial da função hepática. A participação de crioglobulinas neste fenômeno ocorre aparentemente por ativação do SC pela via Clássica. A dissociação de resultados do C2h em relação aos demais exames de avaliação do SC, que se mostram normais, possivelmente ocorre por um conjunto de fatores, incluindo a menor concentração plasmática constitucional de C2 em comparação com os demais componentes do SC, bem como o fato de que o ensaio funcional por imunohemólise é provavelmente mais sensível que os métodos de quantificação dos componentes proteicos do SC. Ademais, as associações clínicas encontradas sugerem que o ensaio funcional C2h se apresenta como um método potencialmente útil para detecção de pacientes com ativação moderada do SC por crioglobulinas e comprometimento hepático mais intenso.
Descrição
Citação
FARIA, Atila Granados Afonso de. Avaliação da atividade hemolítica do componente c2 do complemento em pacientes infectados com hcv. 2015. 108 f. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2015.