Significados culturais e práticas de autoatenção relativos ao processo do nascimento para mulheres residentes no campo

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Data
1905-07-06
Autores
Sand, Isabel Cristina Pacheco Van Der [UNIFESP]
Orientadores
Schirmer, Janine Schirmer [UNIFESP]
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Interpreting cultural meanings of birth process for women living in rural area and how these meanings shape and transform the practices of self-care over time. Theoretical framework: the study is grounded in the Interpretive Anthropology of Clifford Geertz and in Anthropology of Health, of Arthur Kleinman and Eduardo Menéndez, as well as in Anthropology of Birth, of Brigitte Jordan. Methods: it is a qualitative study, ethnographic, developed in three rural communities of Jaboticaba City, Rio Grande do Sul State, Brazil. Seventeen informants participated in the study. Data were collected by the Observation-Participation-Reflection model and ethnographic interviews. For the analysis, the model chosen was Madeleine Leninger‟s, by which three cultural themes emerged. Results: The first theme leads to an interpretation that pregnancy is a health condition, requiring practices of self-care that are created in the tension between popular knowledge and Biomedicine recommendations for the promotion of health. Thus, pregnant women avoid carrying weight, reduce physical activities and change some eating habits. The young ones have prenatal care, highlighting the importance of technological apparatus, especially obstetric ultrasound. It is possible to apprehend an approximation of pregnancy with disease, and a major importance to the Biomedicine knowledge, which acquires, in many situations, a status of authoritative knowledge. The second theme shows that, despite the institutionalization of childbirth, it is still a family experience that preserve remainders of birth in earlier times, when it used to occur in a domestic environment. To the father of the child is reserved a very restrict place, usually associated to the role of purveyor of the family; the women have the function of executing the self-care practices in a wide sense, associated to the protection and support to the pregnant and her family face to real or imaginary threats represented by the attention of a non-familiar place, like hospitals are. Institutionalized childbirth is characterized by practices of attention that, in some ways, are far from the humanistic and holistic dimensions advocated by the policies of attention to the parturition and birth, generating meanings for this experience that usually are not positive; they are, at most of times, inaccurate. Both today and in earlier times, the knowledge of the women do not represent an “authoritative” status. In addition, vaginal childbirth is understood by many women as something that will expose them to suffering and risks, threats that would not exist in a cesarean operation. In the third theme, postpartum is considered a period of self-care practices produced, mainly, within the family and community, with few articulation with professional care sector, which gives a certain power to the knowledge of rural women. Self-care practices in postpartum period are related to eating habits, physical activities, body hygiene and practices of sociability in this specific phase of birth process. Conclusions: The meanings of self-care practices related to the birth process are associated to the promotion of health and prevention of injuries to protect the woman, the child and their social group. The recognition of these meanings and the intentionality of them by the nurses and other health professionals is important for the generation of care that are culturally congruent. Abilities and competences are needed to operate interpretations based on the cultural relativism.
Interpretar os significados culturais do processo do nascimento para mulheres residentes no campo e o modo como esses significados, ao longo do tempo, modelam e transformam as práticas de autoatenção relacionadas a esse processo. Marco teórico: O estudo ancora-se na antropologia interpretativa de Clifford Geertz e na antropologia da saúde, de Arthur Kleinman e de Eduardo Menéndez, e do nascimento, de Brigitte Jordan. Método: Estudo com abordagem qualitativa, do tipo etnográfico, desenvolvido em três comunidades rurais de Jaboticaba/RS. Participaram do estudo 17 informantes. Os dados foram coletados pela técnica de observação-participação-reflexão e pela entrevista etnográfica. Para a análise, optou-se pelo modelo de Madeleine Leininger, por meio do qual emergiram três temas culturais. Resultados: Do primeiro tema, interpreta-se que a gravidez consiste em um estado de saúde, que necessita de práticas de autoatenção tecidas na tensão entre os conhecimentos familiares/populares e os da biomedicina para sua promoção e manutenção como tal. Assim, as mulheres grávidas evitam carregar peso, diminuem esforços físicos e mudam alguns hábitos alimentares. As jovens têm acompanhamento pré-natal, destacando-se aí a valorização do aparato tecnológico, em especial da ultrassonografia obstétrica, o que aproxima o processo da gravidez às dimensões da disease e concede aos saberes da biomedicina, em muitas situações, o status de conhecimento autoritativo. Do segundo tema, apreende-se que, apesar da institucionalização da parturição, esta ainda é uma experiência familiar que preserva resquícios dos nascimentos de épocas passadas, ocorridos em âmbito doméstico. Ao pai da criança é reservado um lugar bastante restrito, geralmente associado ao papel de provedor da família; e às mulheres da família cabe a execução de práticas de autoatenção de sentido amplo, associadas ao amparo e à proteção da parturiente e de seu grupo familiar frente a ameaças, reais ou imaginárias, que a assistência operada em um ambiente não familiar, como é o hospital, pode representar. A parturição institucionalizada é marcada por práticas de atenção um tanto afastadas das dimensões humanistas e holísticas preconizadas pelas políticas de atenção ao parto e ao nascimento, conferindo a essa vivência significados pouco positivos e, quase sempre, imprecisos. Tanto nos dias atuais como em épocas mais antigas, os saberes da mulher/parturiente não desfrutam do status “autoritativo”. Além disso, a parturição por via vaginal é interpretada por boa parte das mulheres como algo que as submete ao sofrimento e ao risco, ameaças das quais as livra a cesariana. No terceiro tema, o puerpério apresenta-se como uma etapa marcada por práticas de autoatenção produzidas, predominantemente, no seio da família/comunidade, com pouca articulação ao setor profissional de cuidados, o que confere determinado poder aos conhecimentos das mulheres do campo. As práticas de autoatenção no puerpério referem-se a hábitos alimentares, atividade física cotidiana, higiene corporal e a práticas de sociabilidade empreendidas pelos “locais” nesta fase do processo do nascimento. Conclusões: Os significados das práticas de autoatenção relativas ao processo do nascimento associam-se à promoção da saúde e à prevenção de agravos para proteger a mulher, a criança e seu grupo social. O reconhecimento desses significados e da intencionalidade que deles é gerada, por parte dos enfermeiros e demais profissionais, é importante para a produção de cuidados culturalmente congruentes, o que demanda habilidade e competência para operar interpretações fundamentadas no relativismo cultural.
Descrição
Citação
SAND, Isabel Cristina Pacheco Van Der. Significados culturais e práticas de autoatenção relativos ao processo do nascimento para mulheres residentes no campo. 2014. 322 f. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2014.