Epidemiologia e resistência do vírus da imunodeficiência humana aos anti-retro virais em acidentes com material biológico em profissionais da Saúde

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Data
2012
Autores
Bakowski, Elcio [UNIFESP]
Orientadores
Medeiros, Eduardo Alexandrino Servolo de [UNIFESP]
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Introdução: Os acidentes ocupacionais com material biológico podem causar a transmissão de patógenos importantes, entre eles, vírus da imunodeficiência humana (HIV), hepatite tipo B (HBV) e hepatite tipo C (HCV). Compreender o cenário que facilita a exposição dos funcionários e seguir os protocolos de prevenção é de grande importância para a prevenção de acidentes ocupacionais com material biológico. Objetivo: Analisar a freqüência e as variáveis envolvidas nos acidentes ocupacionais em profissionais da saúde com material biológico; identificar os efeitos adversos relacionados ao uso profilático das drogas anti-retrovirais e avaliar o perfil de resistência do HIV às drogas anti-retrovirais nos pacientes-fonte. Casuística e Método: Foi realizado um estudo tipo coorte, retrospectivo, dos acidentes notificados à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Universidade Federal de São Paulo (CCIH- NIFESP) no período de 01 de janeiro de 1993 a 30 de junho de 2009. Os pacientes foram incluídos consecutivamente, por meio de comparecimento ou por telefone no período de 24 horas por dia. Em todas as notificações, foi preenchido um instrumento com as variáveis relacionadas ao acidente e colhidas as sorologias para os vírus HIV, HBV e HCV. Os profissionais de saúde foram acompanhados com sorologias periódicas por um período de seis meses. A partir de 2003, os pacientes-fonte de acidentes com sorologia positiva para HIV foram submetidos à genotipagem e posterior comparação do perfil de resistência do vírus com o esquema profilático e avaliados em relação aos eventos adversos causados pelas drogas anti-retrovirais. A análise epidemiológica dos acidentes foi dividida em três períodos de acordo com as atividades desenvolvidas no programa de prevenção de acidentes ocupacionais: 1993 a 1997, período de implantação; 1998 a 2003, período de consolidação e de janeiro de 2004 a junho de 2009, período de intervenções educativas e seguimento ambulatorial dos profissionais acidentados com a realização de genotipagem para o vírus HIV. Resultados: No período de estudo foram notificados 4818 acidentes, média de 283 acidentes por ano (variação de 149-406). A densidade de incidência de acidentes, número de acidentes dividido pelo número de pacientes-dia, variou de 1,0 a 2,2 acidentes por 1000 pacientes-dia. Em relação à distribuição, 75,5% dos acidentes foram relatados por profissionais do sexo feminino, 47% dos acidentes ocorreram em profissionais de enfermagem (enfermeiras, auxiliares de enfermagem ou técnicos de enfermagem), 17% em residentes de medicina, 10% em profissionais de limpeza, 9% em médicos, 7% em alunos (medicina ou enfermagem), 3% em técnicos de laboratório, 2% em fisioterapeutas e 4% em outros profissionais. Quando avaliamos o tempo entre o acidente e a notificação, inferior a 2 horas, houve diminuição deste tempo quando comparamos os períodos entre 1993 e 1997 (29,6%), 1998 e 2004 (49,5%) e, principalmente, no período de 2005 a 2009 (69,4%) (p<0,05). De acordo com o artigo envolvido, 3184 (78%) acidentes foram causados por agulhas, 384 (9%) por lâminas e 539 (13%) por outros materiais. Analisando as sorologias dos pacientes-fonte de 4077 acidentes: 2246 (55,1%) foram com sorologias negativas; 1167 (28,6%) desconhecidas, 305 (7,5%) sorologia positiva para HIV, 216 (5,3%) sorologia positiva para HCV, 77 (1,9%) sorologia positiva para HBV, 44 (1,1%) sorologias positivas para HIV e HCV, 13 (0,3%) sorologias positivas para HIV e HBV e nove fontes (0,2%) com sorologia positiva para HIV, HBV e HCV. Cerca de 60% dos acidentes ocorreram durante o procedimento e 38% após este, sendo autoacidente, o motivo mais prevalente. Avaliando a ocorrência de eventos adversos à medicação profilática, período 09/2003 a 12/2008, foram notificados no serviço 1599 acidentes. Destes, em 83 (5,2%) indicamos o uso de anti-retrovirais e apenas um (1,2%) recusou a profilaxia. Entre os 82 que receberam a profilaxia, 70 (85,3%) apresentaram algum tipo de evento adverso aos anti-retrovirais, seja clínico ou laboratorial. Foram necessárias 30 (36,5%) mudanças de esquemas por intolerância e apenas três (3,6%) funcionários abandonaram a quimioprofilaxia por efeito colateral, antes de completar 28 dias. Quanto à genotipagem, avaliamos os perfis de resistência aos anti-retrovirais em 52 pacientes-fonte com infecção pelo HIV entre os acidentes ocorridos no período de 02/2003 a 06/ 2009. Observamos resistência a zidovudina em 11 (21%) casos, resistência a 3TC em oito (15%), resistência a nelfinavir em 10 (19%), resistência a lopinavir em sete (13%), sendo um deles resistência intermediária. Encontramos resistência às três drogas do esquema em cinco casos (9,6%). Conclusão: Observamos alto número de acidentes com material perfuro-cortantes em profissionais de saúde. O programa educacional teve um impacto positivo nos indicadores de qualidade como o tempo para a notificação do acidente, na diminuição da incidência de acidentes ocupacionais que ocorreram após o procedimento e na adesão do profissional para o uso correto de equipamentos de proteção individual. Observamos alta incidência de eventos adversos com o uso de anti-retrovirais pós-acidente, no entanto a taxa de abandono ao esquema anti-retroviral foi baixa devido a estrutura do Programa que facilita o acesso dos profissionais de saúde. A resistência aos anti-retrovirais nos pacientes fonte foi alta, incluindo as drogas recomendadas pelo Ministério da Saúde, e dificultou a orientação dos esquemas profiláticos. Não identificamos caso de viragem sorológica para HIV nos profissionais acidentados. Apesar dos avanços tecnológicos na área de saúde, os acidentes ocupacionais com material biológico continuam sendo um grave problema nos hospitais.
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São Paulo: [s.n.], 20112. 127 p.